Crescer é inevitável, evoluir é opcional. Mas essa opção só está disponível para quem está disposto a perder alguns nostálgicos pelo caminho, como é o caso de You Me At Six. Em seu sexto álbum, intitulado VI, a banda britânica, que nasceu em berço pop punk, um dos gêneros preferidos do emo anos 2000, dá o outro lado de sua face à tapa com novas sonoridades e influências, como elementos eletrônicos, letras mais despretensiosas e ritmos que conversam com o funk.
As músicas que mais se distanciam da tradicional sonoridade turbulenta do grupo são aquelas que evidenciam elementos indie e pop, como “Pray For Me” e “Losing You”. É aqui o lugar que os britânicos mais experimentaram: o sintetizador, que acompanha todas as faixas, aparece como personagem principal e a atmosfera etérea como coadjuvante. Não por acaso, as duas músicas foram feitas em parceria com o produtor Dan Austin, que também trabalha com Robert Plant, Queens Of The Stone Age e Placebo.
Para reafirmar a nova fase, a banda participou como co-produtora de todo o álbum e escolheu duas músicas de trabalho que singularizam a unidade de VI perfeitamente. Enquanto “3 AM” chega com seu pop sintético, “Back Again” traz uma linha de baixo envolvente e um videoclipe em homenagem ao filme The Big Lebowski. A dupla de singles é um veredito, um termo de responsabilidade, a prévia de uma discussão que o grupo não quer nem participar.
Destaque e boa surpresa do disco, “I O U” também aposta em um funk liderado pelo baixo, que conversa de forma energética com a guitarra, bateria e o vocal de Josh Franceschi. Aqui fica ainda mais óbvio o desvio e o insight que atingiram o grupo depois de seu último álbum, Night People, muito mais fiel às origens básicas do pop punk, e do rock numa visão mais ampla.
A mudança é drástica, mas os britânicos não perdem a alma, bem visto na faixa de abertura “Fast Foward”. Assim como já fez Paramore ou até Arctic Monkeys recentemente, o You Me At Six abandonou os anos 2000 definitivamente e perdeu o medo de soar como eles querem, do jeito que querem, com a produção que eles querem, com letras que não se preocupam com o que as pessoas querem.
Ao contrário do que muitos artistas tendem a fazer com o passar dos anos e mudanças de tendências — aqueles exageros em experimentações e arrependimentos em forma de álbum —, a banda inglesa sabe muito bem o que está fazendo. Por isso, a qualidade de VI é tão evidente, que muito provavelmente até os fãs mais conservadores gostaram desse novo, e inesperado, You Me At Six.
OUÇA: “3 AM”, “Back Again” e “Losing You”