Não tem muito como nem pra onde fugir, Pabllo Vittar é um fenômeno. Pouquíssimo tempo se passou desde que a drag queen maranhense lançou seu primeiro EP, Open Bar, e depois seu álbum Vai Passar Mal em Janeiro de 2017. Pouco tempo, mas o suficiente para Pabllo fazer parcerias com nomes que vão desde Preta Gil e Anitta até Diplo e Charli XCX. Vai Passar Mal foi um álbum pop incrível, que cumpria exatamente o que prometia: um álbum pop chiclete, feito por uma drag queen mas que transcendeu as barreiras da comunidade LGBT e lançou Pabllo para o mainstream de uma vez por todas.
E agora a moça lança seu segundo disco, Não Para Não. E, pelo menos musicalmente, as coisas parecem ter esfriado um pouco. Bastante, na verdade. A proposta da Pabllo não é e nunca nem foi fazer música pop contemplativa e introspectiva, é verdade, mas Não Para Não peca em ser um pouquinho raso demais até para a pista. Enquanto Vai Passar Mal misturava muito bem o pop com MPB, brega e eletrônico, ele tinha momentos de vulnerabilidade como “Indestrutível” e “Irregular”, coisa que não acontece em momento algum em Não Para Não.
Em seu segundo disco, Pabllo foca muito mais a produção no tecnobrega e forró, em detrimento aos diversos outros estilos misturados que permearam o debut. Isso funciona muito bem em “Buzina”, faixa que abre o disco e com certeza a melhor do trabalho como um todo. Mas no restante, a produção muito monótona acaba se tornando repetitiva e cansa rápido demais. É possível ouvir Vai Passar Mal no repeat descontraidamente, mas Não Para Não logo se torna chato e morno – até mesmo antes do final da primeira audição completa. As participações aqui, de Ludmilla, Urias e Dilsinho, pelo menos, servem um propósito maior do que apenas repetir o que a Pabllo tinha acabado de cantar – como eram todas as presentes no debut, coisa que sempre me incomodou muito na produção de Vai Passar Mal.
Toda a representatividade de Pabllo ter chegado (e se mantido) onde chegou é maravilhosa, sem a menor sombra de dúvida – não podemos nunca nos esquecer de que gostando ou não da música, Pabllo é uma bicha afeminada nordestina que milita publicamente sempre, e isso é extremamente importante e longe de ser pouca coisa. Talvez Não Para Não, mesmo sendo musicalmente duvidoso em sua maioria, sirva exatamente para isso, para manter Pabllo na conversa. Uma conversa que histórico-social é muito mais relevante do que um álbum não muito bom. Por agora isso já é o suficiente, e que o próximo álbum seja mais interessante.
OUÇA: “Buzina”, “Problema Seu” e “Não Vou Deitar”.