Com exceção de um ou outro hit ao longo do caminho, o Dandy Warhols nunca foi um grande sucesso comercial mesmo nos meios mais alternativos da música, mas sempre foi uma banda muito inventiva e eclética brincando e experimentando dentro das vertentes do rock alternativo com resultados muito interessantes ao longo de 10 álbuns de estúdio. Why You So Crazy vai fundo na pegada eletrônica pincelada pelos músicos em Distortland de 2016 mas sem a graça de seu predecessor e traz alguns elementos country sem muito contexto pra algumas canções.
O que mais decepciona em Why You So Crazy é que ninguém ali parece estar usando sua capacidade total. O vocalista Courtney Taylor-Taylor que em trabalhos anteriores, embora não fosse um vocal super potente, aproveitava a característica de sua voz pra compor as harmonias, aqui fica quase escondido em sussurros e prejudicado pela mixagem que joga seu vocal por baixo do instrumental; Peter Holmstron e Brent DeBoer seguram bem a cozinha mas sem muita energia nem inventividade para dar mais corpo e vida ao som quase mecânico que se desenvolve no álbum; e Zia McCabe que já fez coisas incríveis com seus sintetizadores tanto nas músicas mais pop quanto nas mais viajadas do Dandy Warhols usa uma programação datada e simplista que não empolga muito.
O disco já começa pesando a mão num eletrônico genérico com a introdução “Fred N Ginger” e “Terraform” e a profusão de beats e efeitos especiais faz com que seja difícil entender algum conceito musical por trás delas e mais difícil ainda entender o que está sendo cantado. Ao longo do álbum essa (falta de) estrutura se repete em músicas como “Next Thing I Know”, que tenta criar uma atmosfera espacial mais obscura mas acaba se tornando assustadoramente monótona e “To The Church”, que tenta evocar a fase mais eletrônica de Bowie através de algumas levadas de baixo e violão mas não funciona muito bem por ser um tratamento puramente estético sem muita relação com algum conceito ou as faixas que a circundam. Essas faixas são carregadíssimas de efeitos e um certo experimentalismo que é até interessante em certa medida mas sem nada que realmente cative e faça você sem lembrar delas depois que o álbum acaba.
No lado menos eletrônico do álbum temos algumas coisas mais interessantes mas nada muito brilhante como “Motor City Steel” e “Highlife” que usam uma estrutura country tocada com instrumentos eletrônicos pra tirar sarro dos exageros e clichês característicos do country radiofônico americano e embora sejam sim um pouco repetitivas ainda são faixas divertidas e que expressam bem alguma intenção e não são apenas um amontoado de beats e efeitos dispersos. Perdida no começo do álbum temos “Be Alright” que saiu como primeiro single e pode ser uma terrível propaganda enganosa porque é a faixa que mais se parece com o rock alternativo que o Dandy Warhols já fez ao longo da carreira e é uma ótima música que não tem nenhum outro paralelo nesse registro.
Why You So Crazy chega até nós no ano em que o quarteto de Portland compelta 25 anos de carreira e, embora sonoramente seja bastante diferente de seus predecessores, ainda celebra de forma sutil muitos dos maneirismos de diversos momentos desse quarto de século. De toda forma, apesar de toda a estranheza e a falta de algo que seja realmente brilhante e marcante, podemos dizer que esse registro ainda está dentro do que o Dandy Warhols faz que é experimentar até as últimas consequências com toda a liberdade, não importando o resultado.
OUÇA: “Be Alright”, “Thee Elegant Bum” e “Motor City Steel”